O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, elogia as relações actuais entre Portugal e Angola que irá testemunhar na visita que começa oficialmente na quarta-feira. Angola, diz o Ti Celeito, é um “portento de força e de futuro, à escala regional e global”, salientando que os dois países vivem um momento “motivador” após “demasiados anos de sensação de compasso de espera”. Estará ele a falar dos nossos 20 milhões de pobres?
Numa entrevista ao semanário económico angolano Vanguarda, Marcelo Rebelo de Sousa salienta que a visita de Estado que iniciará formalmente a Angola na quarta-feira demonstra que o trabalho que tem sido feito pelos dois Estados tem resultados “acima das expectativas”. Estará a falar no elevado índice de mortalidade das crianças angolanas?
“O que mais importa é que se vive um momento motivador nas relações entre Angola e Portugal, depois de anos, demasiados, de sensação de compasso de espera, de adiamento, de falta de mais próximo contacto”, sublinhou Marcelo, destacando o facto de não existirem áreas tabu entre os dois países.
Quererá isto dizer que Marcelo está atento (minimamente que seja) ao facto de em Angola poucos terem muitos milhões e muitos milhões terem pouco ou… nada?
Segundo o chefe de Estado português, a quem os angolanos chamam carinhosamente “Ti Celito”, a visita de Estado que vai efectuar a Angola vai simbolizar também o reconhecimento do papel da “notável” comunidade portuguesa presente no país, razão pela qual a deslocação estender-se-á também às províncias de Benguela e da Huíla, onde existe uma forte marca colonial portuguesa.
Não é que isso interesse ao “Ti Celito”, mas também por cá existe uma forte marca portuguesa, sobretudo devido à hipocrisia e ao nível do servilismo, das nossas crianças que são geradas com fome, nascem com fome e morrem com… fome.
“A visita [a Benguela e à Huíla] corresponde a uma forte vontade minha de não ficar só em Luanda, mas, também, de uma proposta angolana, permitindo abarcar uma visão mais rica e variada desse portento de força e de futuro que é Angola, à escala regional e global. E, nessa realidade, não só cabe como desempenha um papel muito importante a notável comunidade portuguesa dispersa por todo o território angolano”, afirmou.
Será que, por falar da comunidade lusa, Marcelo se recorda dos níveis de desenvolvimento – sobretudo em matéria de auto-suficiência alimentar – que Angola tinha na época (1973/1974) em que era colónia portuguesa? Se se recorda poderia lembrá-lo ao seu anfitrião…
Questionado sobre que áreas se pode dar mais um salto qualitativo na cooperação bilateral, Marcelo respondeu que passam “por todas as que forem possíveis”, das sociais às culturais, das económicas às financeiras.
“Não há áreas tabu, como é natural entre amigos e irmãos”, acrescentou o Presidente português, salientando que virá a Angola acompanhado por uma “forte” delegação governamental e empresarial.
Sobre a questão da dívida do Estado angolano a empresas portuguesas, um dos temas centrais da visita, Marcelo optou por não se alongar em relação ao tema, garantindo saber que as duas partes estão a trabalhar “muito, depressa e bem”.
“Um avanço relevante desde o arranque, há seis meses, passando pela visita presidencial (do chefe de Estado de Angola, João Lourenço, a Portugal] de Novembro último”, sublinhou, garantindo que “ninguém consegue travar a dinâmica” entre os dois povos.
“Há uma cooperação pública e privada em todos os azimutes. E a rápida e eficaz resposta ao dossiê financeiro permite agilizar actuações comuns em ritmo mais rápido no futuro imediato. Com uma ideia central: trabalhar para o crescimento angolano. Depois, há apostas mais a prazo, também económicas, sociais, culturais e administrativas e institucionais. O essencial é que cada visita seja um começo de caminho, não um fim”, frisou.
Sobre a Presidência de Angola da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Marcelo indicou ter “elevadas expectativas”, sobretudo no reforço já lançado pela “intensa” liderança de Cabo Verde, um tema que disse constituir um “debate estimulante” em que “nenhuma ideia deve ser excluída”.
Em relação à liderança de João Lourenço em Angola, cuja dinâmica é vista internacionalmente como um “comboio em andamento”, o presidente português destacou que Portugal estará sempre do lado do desenvolvimento angolano. O que Marcelo queria dizer é que Portugal estará sempre ao lado MPLA, desde logo porque para os dirigentes políticos lusos (a começar nele próprio) entende que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola.
Quanto à simpatia específica por João Lourenço (também foi assim quanto a José Eduardo dos Santos), importa não esquecer que Marcelo Rebelo de Sousa felicitou o seu homólogo pela eleição (não nominal) ainda os resultados não tinham sido divulgado…
“Onde estiver o comboio angolano, aí está Portugal. Onde estiver o comboio português, aí está Angola. Um e outro sempre em posições de destaque”, respondeu, considerando, por outro lado, “ser difícil não criar empatia” com João Lourenço e com a “primeira-dama” angolana, Ana Lourenço, cuja relação “anda paredes meias com a amizade”.
Aliás, já era assim quando João Lourenço era vice-presidente do MPLA sob a presidência de José Eduardo dos Santos e, também, quando João Lourenço era ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos.
“Falamos muito à vontade e sobre tudo o que pode ser importante para os dois povos. Só assim nasce a total verdade na compreensão mútua. E muito tenho aprendido com o que oiço e reflicto acerca deste importante momento angolano e do fundamental impulso dado pelo senhor Presidente João Lourenço”, acrescentou Marcelo.
Bem que poderia ter corroborado o prazer que tem igualmente quando fala com o Presidente do MPLA, João Lourenço, ou com o Titular do Poder Executivo, João Lourenço…
Folha 8 com Lusa